Uma viagem sempre produz reflexões, principalmente aquela viagem onde o trajeto importa tanto quanto o destino (por isso prefiro as viagens de moto).
No carnaval, meu grande amigo Caio Nunes fez uma viagem ao Salar, o deserto de sal da Bolívia e o que ele conta, revela sua maturidade como viajante, sua experiência de alma com o local e seu impacto com a cultura e com aquilo que a natureza pode nos mostrar.
Desta vez a postagem é dele.
UYUNI - BOLÍVIA
Por: CAIO NUNES CARNEIRO
A gente voltou hoje do deserto, três noites, quatro dias foi incrível, foi bem diferente do que eu imaginava, na verdade, porque eu achava que o foco era o Salar, aquele deserto de sal, mas no caminho tem um monte de coisa legal.
A gente entra num ônibus, vai até a fronteira, passa na imigração boliviana, que é uma casinha no estilo seriado Narcos, com um boliviano te pedindo um passaporte e te dando um carimbão lá, e aí, todas as refeições eram preparadas pelos próprios guias. Eles levavam as coisas e preparavam pra gente. Tinha café, pão, frutas, bolo, essas coisas; e a comida foi muito simples a viagem inteira, mas bem farta. O jantar tinha sempre uma sopa, sopa de vegetais, geralmente, com batata, pois eles comem muita batata, batata frita, purê e alguma carne, ou um atum, ou um frango, alguma coisa assim.
No passeio, na ida, até Uyuni, eram mais ou menos uns 500 quilômetros e nós íamos parando em vários lugares. Ao longo do dia tem vários passeios como as árvores de pedra, que é um grande descampado com umas árvores que são esculpidas pelas pedrinhas de areia com o vento e elas ficam mais grossas na parte de cima e parecem árvores, tem o deserto de Siloli com umas montanhas geladas atrás, tem várias lagoas, cada uma com uma cor diferente por causa dos minérios, tem a lagoa colorada, que é vermelha, a verde, a branca e a negra, a gente passa por descampados lindos com um monte de lhamas.
O carro é um 4X4 com seis pessoas dentro. A gente parava, tirava foto, nosso guia foi muitor gente boa, porque ele não fazia a gente correr muito, então a gente, no nosso tempo, tirava fotos da paisagem, curtia um pouco e depois ia. Então, quando ele viu que nós éramos bem tranquilos em se desviar do horário, ele fez dois passeios com a gente que não estavam no roteiro. Ele levou a gente na casa da família dele, e foi incrível porque a gente viu de perto a população do interior do deserto na Bolívia. Eles moram numa casinha no meio do absoluto nada, num descampado, que ele levou a gente era como se fosse um oásis verde no meio do deserto que você pegava uma estradinha de terra e às vezes não tem nem estrada, o cara tá indo pra frente porque ele conhece o caminho. Ele esperou na casa da família dele esperando enquanto a gente batia umas fotos, depois a gente voltou, e ele contou que faz esse passeio de três dias, seis vezes por mês, e ele não via a família dele há mais de seis meses, e, na volta, ele parou em um dos povoados que tem no meio, um povoado supersimples e a gente viu o carnaval boliviano.
Ele falou que era um ano muito especial que eles estavam comemorando porque a chuva veio muito forte, então eles tiveram boas colheitas. Eles são plantadores de quinoa, que é uma planta muito resistente e que está muito na moda na Europa, Brasil e Estados Unidos. Então, tem campos enormes de quinoa, e a colheita este ano foi muito boa e eles estavam muito felizes e a gente passou numa festa de carnaval tão incrível: eles fazem umas danças, assim, um grupinho de cinquenta ou sessenta pessoas fazendo umas danças, tomando uns chás, umas coisas diferentes, num frio desgraçado.
Mas foi basicamente isso, cada dia a gente avançava mais alguns quilômetros e aí dormia em algum lugar no meio do deserto que sempre era uma cabaninha, um hostel, alguma coisa assim, mas bastante simples, e um dos dias não tinha nem ducha. A altitude muito pesada e isso foi uma coisa que a gente nem esperou. A gente foi até 4.900 metros e um dos nossos amigos passou bem mal, pois é um negócio que debilita, o ar não vem quando você respira, é bem complicado.
No último dia a gente chegou nessa cidade que chama Uyuni pra ver o deserto de sal, que é um negócio incrível: são dez mil quilômetros quadrados e como está chovendo muito ele forma essa camada de dez centímetros de água que reflete o céu inteiro. Você olha para o horizonte e não consegue ver o que é céu o que é água, o que é sal.
É realmente muito bonito. A viagem é pesada, exige bastante, não é confortável, mas é incrível e as paisagens são de outro mundo.
Foi uma experiência incrível e uma viagem para a alma.
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